domingo, 29 de setembro de 2013

XI'AN - A Muralha



Depois de um dia quente e intenso fomos visitar o grande muro que cerca a parte mais antiga da cidade.  Pensei que fosse algo como chegar, olhar para a cara do muro e correr para o hotel. Que nada! Hora de pedalar!
Um dos únicos intactos da China, o muro continua com seus 14 km de extensão formando um retângulo perfeito ao redor do centro da cidade. Sua construção teve início na Dinastia Tang (618-907), mas foi na Dinastia Ming ( 1368-1644)  que foi ampliado sofrendo diversas alterações, inclusive o  calçamento de pedra que facilita hoje uma bela caminhada através de seu perímetro. Possui torres de defesa que protegiam contra ataques inimigos.  Tais torres são estrategicamente distanciadas entre si de forma que uma flecha que partisse de uma  pudesse alcançar a outra, garantindo assim a total cobertura de defesa do seu perímetro.



Existem dois pontos de aluguel de bicicletas, inclusive aquelas para duas ou três  pessoas que garantem  uma boa diversão numa paisagem totalmente pitoresca. O problema é ter pernas para aguentar os 14Km.

XI'AN - Huashan Mountain


Nada como um passeio nas montanhas para relaxar.  A duas horas de Xi'an encontram-se as montanhas de Hua Shan. Nossa pequena viagem foi marcada por problemas técnicos no transporte.  Já quase chegando, o pneu da van que nos levava furou e como estava sem o macaco, o jeito foi esperar socorro na beira de estrada e curtir o sol de rachar.



Felizmente todo o nosso perrengue valeu a pena!!  Estávamos diante de um dos espetáculos da natureza.  Um verdadeiro cenário de filmes de Kung Fu, dava até para imaginar os monges eremitas subindo por aquela infinidade de escadinhas que cortam os escarpados. 
As montanhas contam com uma tremenda infraestrutura turística.  Em sua base existe uma espécie de estação de onde partem micro-ônibus que levam os turistas para as duas linhas do  teleférico.  O trajeto é sinuoso e aos poucos vamos sentindo a paisagem mudando.



Os preços das entradas são extorcivos quase nos fazendo desistir, mas como quem está na chuva é pra se molhar, encaramos a rebordosa. Aos poucos começamos a entender os valores cobrados devido ao alto investimento feito na região. 
Grandiosos portais anunciam a chegada. 


Depois de muitas escadarias, finalmente o teleférico. Confesso que não fazia idéia de que pudesse ser tão longo e tão alto.  Um barato! As crianças amaram!

Ao transpor estes morros verdinhos a surpresa das gigantescas rochas.


 Só o teleférico já tinha valido o passeio, mas chegar lá no topo e olhar aquelas montanhas, numa sucessão de planos, até onde a vista alcança, isso realmente não tem preço.


Alguns se aventuram a subir até o topo mais alto e chegar aos 2154 metros de altura para curtir o gostinho da conquista.


Outros preferem deixar sua marca de alguma forma registrada para a posteridade. Imaginem poder voltar e reviver momentos tão únicos em outra fase da vida?


Esta paisagem nos convida a um momento de contemplação.  Nos faz pequeno diante da força inexorável da natureza e ao mesmo tempo nos faz parte dela. Chegar até ali com minha família e meus amigos faz de mim uma pessoa abençoada.




XI'AN - Aldeia Banpo


Outro sítio arqueológico importante é a Aldeia de Banpo. Descoberta na década de 50 foi transformado em um museu onde se pode ver claramente o assentamento das casas, os furos de fixação dos pilares, o local da fogueira e os túmulos  onde crianças e adultos eram sepultados. Vestígios de uma comunidade primitiva que há mais de 6000 anos  já apresentava sinais de organização social, religiosa e arquitetônica.

Algumas dessas casas primitivas eram semi-enterradas para resguardar o fogo.
No centro do povoado havia uma casa maior cercada por outras casas menores, mostrando a existência de  alguma hierarquia social. Há indícios de que se tratava de uma sociedade estritamente matriarcal, onde o papel da mulher se sobrepunha ao do homem em diversos aspectos.


Vala ou canal que protegia a aldeia.
Cerca de  46 casas formavam a aldeia ao redor da qual havia um canal artificial como proteção aos ataque de animais.  Algumas tinham base quadrada, outras circulares, algumas semi-enterradas e já utilizavam métodos de construção tradicionais. São verdadeiras precursoras da arquitetura chinesa.


Bem próximo às casas foi encontrado uma espécie de cemitério com ossadas com diferentes características que ajudam os pesquisadores nas teorias sobre a cultura daquele povo.  Por exemplo, crianças com menos que 12 anos eram enterradas em ânforas de barro e geralmente eram dispostas próximas de seus familiares  para que teoricamente pudessem ficar juntos numa outra vida.  Uma ossada foi encontrada com a face virada para a terra, podendo ter sido de algum inimigo invasor. 
Estes são 4 irmãos que foram enterrados juntos.
O museu fica fora do circuito turístico e estava praticamente às moscas, mas é de um valor histórico impressionante. Um filme de animação tenta reconstruir a vida daquela aldeia nos transportando para aquele tempo. Uma forma de tentar entender o passado, buscando explicações nas raízes da humanidade. 


XI'AN - Exército de Terracota


Mais um pedacinho imperdível da China, realmente nunca poderíamos ter deixado de conhecer  Xi'an e seu fabuloso Exército de Terracota. Uma verdadeira aula de história e arqueologia para Indiana Jones nenhum botar defeito.



A cidade de Xi'an, na província de Shaanxi,  originou-se a cerca de 3000 anos, mas em seus arredores foram encontrados vestígios de  uma vila neolítica de 6000 anos.  Foi capital de onze dinastias dentre elas a do Imperador Qin Shi Huang que unificou o país e que ordenou a confecção do exército a mais de 2200 anos.

O magnífico sítio arqueológico foi encontrado na década de 70 por um agricultor que perfurava um poço artesiano. As fantásticas figuras de cerâmica em tamanho real foram modeladas em argila e são peças únicas, diferentes entre si, com detalhes como  expressões faciais, penteados e indumentária. São mais de 8000 soldados, arqueiros, generais, cavalos e carruagens que em sua maioria encontra-se ainda sob a terra e foram  feitos com o intuito de proteger o túmulo de Qin Shi Huang após sua morte. Acredita-se que juntamente com o este exército fake, foram enterrados vivos todos os escultores que trabalharam na produção das peças, assim como as concubinas e sacerdotes do reino com o objetivo de manter imaculado seu segredo.


O Museu de Shaanxi, acervo espetacular.
As figuras foram dispostas em trincheiras cobertas com toras de madeira recobertas com terra.  Pela ação do  tempo ou do fogo ateado por invasores as madeiras não suportaram o peso do solo e ruíram sobre as peças quebrando-as em milhões de pedaços.

Crianças curiosas, fragmentos de soldados e trincheiras soterradas.
Assim que entram em contato com a atmosfera as esculturas perdem a cor rapidamente exigindo técnicas conservação e restauro sofisticadas e caras. Muitas peças foram novamente soterradas para manterem suas características enquanto aguardam recursos para serem restauradas.

O encantamento do próprio povo diante sua história.
Algumas peças contaram com tecnologia Alemã caríssima para restauro da cor.
É impossível descrever as expressões dos soldados que pareciam vivos e prontos para a batalha.  Só realmente estando lá para sentir o peso dos séculos em todo aquele barro.  Cada vez mais me surpeendo com o pouco que sei sobre a humanidade e tudo que ela já viveu. Afinal o que é uma existência perto da eternidade?  Enfim, torço para que meus filhos possam contar para os filhos deles o quão grande e diferente nosso mundo pode ser.





quarta-feira, 11 de setembro de 2013

MANDARIM

A China é um ótimo país para se viver! Não tem violência, os transportes públicos funcionam, o comércio é fantástico... A única coisa que atrapalha na adaptação é a questão da língua. A cominicação é realmente muito difícil! Ainda mais que quase ninguém fala inglês e quando fala é com um sotaque super carregado!
A escrita é uma arte! 
O mandarim é a língua oficial do país mas existem centenas de outros dialetos.  O legal é que esses dialetos seguem a mesma escrita com sons totalmente distintos! Às vezes dois dialetos convivem numa mesma região.  Aqui mesmo em Shanghai é falado o mandarim e o shanghainese.  
A fonética do mandarim é super complexa com fonemas muito diferentes e com  muitas variações tonais para uma mesma sílaba.  A sílaba "ma", por exemplo, possui várias entonações  e uma representação gráfica para cada tom.






Este vídeo exemplifica bem estas variações.  A apresentadora é tão animada! Olhando assim parece mole!  O vídeo está em inglês mas acho que dá para terem uma idéia.


Para facilitar um pouco nossa vida, nos anos 50 foi desenvolvido o pinyin que é uma latinização do mandarim, adaptando sua fonética aos sons e à escrita do nosso alfabeto. Atualmente é bastante utilizado para entrada de dados em computadores e celulares, afinal um teclado em chinês, com tantos caracteres, seria totalmente inviável.  Em nosso dia-a-dia, o pinyin ajuda a pronunciarmos os nomes das ruas e a ler os mapas. Na prática de não adianta  mostrar um endereço em pinyin para um taxista, ele não entenderá e ainda ficará de mau humor. O nome em Chinês  nesse caso é fundamental.

Lugares com nomes em inglês (pinyin) e em  mandarim.

Por essas e outras é que  meu celular tornou-se meu companheiro inseparável. Com o mapa e o tradutor da google eu vou a qualquer lugar.  Ainda mais agora que descobri um site que gera uma imagem com o nome da rua e as direções em chinês. Não preciso contar com a boa vontade dos motoristas em enchergar aquelas mini letrinhas do mapa na tela.

Cartão para o taxista.


O metrô também já está dominado.  Ele possui um sistema super fácil de compra de tickets. O terminal te dá opção em chinês e  inglês. O problema é ter cuidado ao desembarcar, pois os nomes das estações são super parecidos, e se  confundir um X com um S, pode literalmente ir parar na Conchinchina.

Terminal com rede de linhas do metrô em inglês.

Todas as estacoes possuem um mapa de saídas que geralmente estão  em chinês.  Aí vem aquela velha pergunta "oinquieutô?", "oinquieuvô?", o jeito é ir testando.

Planta de situacão da estação com seus arredores. 
Alguém se habilita?
No supermercado também é sempre aquela gincana pra ver quem decifra primeiro.  Nunca consigo fazer comprinhas rápidas, gasto um tempão procurando coisas e tentando entender os rótulos.



Se em Shanghai que é uma cidade cheia de recursos a comunicação já é difícil, imaginem nas cidades menores.  Alguns acontecimentos ficaram para história.  Um deles foi quando em Nanquim precisei pedir papel higiênico na recepção do hotel.  O rapaz não falava nada de inglês e eu me recusei a fazer aquele gesto típico que facilmente seria entendido.  Bem, resolvi então apelar para os meus dotes artísticos e desenhei um rolinho bem bonitinho, em perspectiva, e mesmo assim o danado não entendeu. Só quando eu desenhei um vaso sanitário com caixa acoplada e botão foi que caiu a ficha.  O homem morreu de rir, e eu de vergonha!

Ainda em Nanquim, contratamos um passeio turístico em uma agência que nos garantiu um guia que falasse inglês.  Para nossa decepção, a pessoa não sabia nem "the book is on the table" e além disso desembestou a falar chinês olhando o tempo todo para minha cara como se eu estivesse entendendo tudo.


Por aqui ou por ali? Doce ou salgado? Feminino ou masculino? Assim vamos vivendo nossos dias, errando e acertando.  Uma coisa já percebemos... o melhor é falar o português mesmo. Minha faxineira por exemplo, já é quase minha amiga de infância.  Ela fala chinês e eu português e a gente se entende super bem.  Já está até aprendendo algumas palavrinhas. A que ela mais usa é  bagunça. "Bagunça Huan! Bagunça!!!"




quarta-feira, 4 de setembro de 2013

CIDADE VERDE

É... o verão está acabando!  Graças a Deus! No início da semana veio o vento e levou embora todo aquele calor insuportável. O clima já mudou e por isso resolvi escrever sobre a arborização da cidade.  O outono está chegando e daqui a pouco não sobrará nenhuma folha para contar a história.  

Em meu último post falei sobre as sombrinhas chinesas, mas  o que isso tem a ver com arborização da cidade? A resposta é: sombra. É incrível como todas as ruas são completamente arborizadas, repleta de áreas verdes com inúmeros jardins e praças, tudo para encarar o intenso calor do verão Shanghainese.
Ruas do nosso bairro.
A cidade possui um belo  plano urbanístico.  As vias mais largas possuem canteiros que separam as pistas de carros da ciclovia. Os alinhamentos são respeitados e os passeios públicos são bem definidos com espaço suficiente para as caixas de árvore. Isso tudo garante um visual bem mais agradável e menos caótico em lugares onde transitam milhares de pessoas.

 Mesmo nas áreas mais densas a vegetação está presente compondo o visual cosmopolita da cidade.

Rua Xingang, Xujiahui
As praças e jardins dariam assunto para muitos posts pois são muito importantes na vida cotidiana dos cidadãos.  Essas áreas verdes formam verdadeiras massas entremeadas na malha da cidade tornando-a mais bela e agradável e menos fria no sentido de tornar mais humano o espaço urbano em que estão inseridas.

Pracinha do meu bairro.
Praça do Xujiahui
 Parque Chengzeng
Canteiros super bem cuidados.
Century Park
Pracinha da rua Xinzha 
Além das praças qualquer cantinho que sobra é transformado em jardim.  Por exemplo, sob quase todos os viadutos vemos belos jardins que suavizam a paisagem dura do concreto.  Essas áreas não ficam degradadas e ainda servem como espaço de lazer.


Não existe uma grande variedade de espécies de árvores, geralmente são plátanos que são árvores caducas e já começaram a perder suas folhas.  Estou curiosa para ver se terão aquele colorido alaranjado que vemos em filmes americanos.










terça-feira, 3 de setembro de 2013

SOMBRINHAS


Descobri pela força da necessidade a funcionalidade de uma boa sombrinha pois no Brasil ela só guarda a chuva e aqui na China também guarda o sol. 
Os Chineses odeiam se bronzear.  Em pleno verão de 40 graus as pessoas  se encapotam todas, usam roupas bem fechadas de manga comprida ou cobrem os braços enquanto estão em suas motocas. O padrão de beleza requer uma pele absolutamente branca e sem nenhuma mancha. Totalmente diferente dos brasileiros que se torram ao sol em busca do bronzeado perfeito.
Esta senhora estava com chale, chapéu, máscara e luvas. 

Desde os primórdios dessa civilização a sombrinha é um acessório importantíssimo e segue as tendências da moda local com apliques de rendas e babados.  Algumas são realmente lindas,  remetem aquelas sombrinhas de sinhazinha romântica. Outras são super modernas com cores e design diferentes. 


O importante é não sair de casa sem ela e geralmente é o que faço, o problema trazê-la de volta. Já perdi a conta de quantas ficaram pelo caminho!